Viena — InkDesign News — Uma pesquisa inédita apresentada no Encontro Anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD), realizado em Viena, revela que o uso do medicamento semaglutida para perda de peso está associado à diminuição significativa do chamado “food noise” — ou ruído alimentar —, entre indivíduos com obesidade. O estudo, que envolveu 550 participantes nos Estados Unidos, traz avanços relevantes no entendimento da relação entre medicação, comportamento alimentar e saúde mental.
O Contexto da Pesquisa
O termo “food noise” se refere a pensamentos obsessivos e intrusivos sobre comida, fenômeno que dificulta a adoção de hábitos saudáveis e contribui para o sobrepeso. Pesquisas anteriores indicam que 57% das pessoas com excesso de peso relatam sofrer com essas ideias recorrentes, embora o termo ainda seja pouco conhecido, conforme apontam os autores. Estudos também associam o ruído alimentar à piora do bem-estar geral e à dificuldade em manter rotinas de exercícios físicos.
Medicamentos agonistas do receptor de GLP-1, como a semaglutida — desenvolvida pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk A/S — já são consagrados por sua eficácia no controle do apetite e na redução da fome. Por meio da simulação do hormônio GLP-1, eles prolongam a saciedade e retardam o esvaziamento gástrico. Contudo, pouco se sabe sobre como esses fármacos impactam especificamente o food noise.
Resultados e Metodologia
Para investigar tal relação, pesquisadores da Novo Nordisk e da Market Track LLC realizaram uma pesquisa com 550 adultos (média de 53 anos; 86% mulheres) em tratamento com semaglutida nos Estados Unidos. Destes, 81% faziam uso do remédio há pelo menos quatro meses, e 86% relatavam peso inicial igual ou superior a 92 kg antes do início do tratamento.
Os participantes responderam a questionários sobre a frequência e intensidade do food noise antes e depois do uso da medicação. Os dados apontam queda expressiva no fenômeno: a proporção de pessoas com pensamentos constantes sobre comida caiu de 62% para 16%. Aqueles que disseram gastar “muito tempo” pensando em comida reduziram de 63% para 15%. Pensamentos considerados incontroláveis sobre comida passaram de 53% para 15%, enquanto relatos de impactos negativos na vida caíram de 60% para 20%.
“A análise dos resultados mostrou que os participantes estavam experimentando menos ruído alimentar do que antes.”
(“Analysis of the results showed that the participants were experiencing less food noise than before.”)— Equipe de pesquisadores, Novo Nordisk / Market Track LLC
Outros indicadores revelaram melhorias em aspectos de saúde mental: até 80% relataram desenvolvimento de hábitos mais saudáveis, e 76% sentiram melhora na autoconfiança. Contudo, os autores reconhecem que não é possível distinguir se tais avanços derivam da redução do food noise ou da própria perda de peso promovida pelo medicamento.
Implicações e Próximos Passos
Ao diminuir pensamentos obsessivos sobre comida, a semaglutida pode representar uma abordagem inovadora para lidar com desafios psicossociais relacionados à obesidade. Os autores sugerem que novas pesquisas podem explorar os mecanismos por trás dessa relação e os potenciais benefícios em longo prazo para a saúde mental e o controle de peso.
“Os autores do estudo concluem que a semaglutida pode reduzir a quantidade de ruído alimentar experimentado por indivíduos com obesidade.”
(“The study’s authors conclude that semaglutide may reduce the amount of food noise that is experienced by individuals who are living with obesity.”)— Equipe de pesquisadores, Novo Nordisk / Market Track LLC
Especialistas avaliam que resultados como estes podem impactar positivamente estratégias de manejo clínico do sobrepeso, ampliando a discussão sobre os componentes comportamentais do tratamento farmacológico. Novos ensaios científicos estão previstos para aprofundar a compreensão desse processo.
Nas próximas etapas, o campo científico buscará elucidar se os benefícios relatados se mantêm a longo prazo e se a diminuição do food noise pode ser empregada em diferentes abordagens terapêuticas. Uma maior integração entre tratamento medicamentoso e suporte psicológico pode vir a transformar os paradigmas atuais de combate à obesidade.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)
