Estudo revela quem fez ferramentas de 1 milhão de anos na Indonésia

Griffith, Austrália — InkDesign News — Uma equipe de pesquisadores da Griffith University, em parceria com a Agência Nacional de Pesquisa e Inovação da Indonésia (BRIN), revelou evidências de uma travessia marítima profunda realizada por hominíneos para a ilha de Sulawesi há pelo menos 1,04 milhão de anos, segundo estudo publicado em Nature. O achado, que reposiciona a cronologia da ocupação humana insular no sudeste asiático, baseia-se em ferramentas líticas datadas por métodos paleomagnéticos e fósseis diretos.
O Contexto da Pesquisa
O estudo surge como um quadro evolutivo da presença de hominíneos na região conhecida como Wallacea, marcada por segmentos insulares e fauna peculiar. Pesquisas anteriores, conduzidas pelo professor Adam Brumm e sua equipe, já haviam identificado atividade humana arcaica em Flores e Sulawesi, mas até então o registro mais antigo remontava a cerca de 1,02 milhão de anos. Além disso, o sítio de Luzon, nas Filipinas, já havia indicado presença hominínea há cerca de 700 mil anos, o que ampliava as hipóteses sobre migrações e adaptações de grupos humanos nessas ilhas isoladas.
Resultados e Metodologia
No campo, uma equipe liderada por Budianto Hakim escavou sete artefatos de pedra em camadas sedimentares de um afloramento de arenito em Sulawesi. As ferramentas, fragmentos afiados extraídos do desgaste de seixos locais, sugerem práticas de fabricação e uso em atividades como caça na margem de antigos canais fluviais.
O grupo aplicou datação paleomagnética no arenito e datação direta em fósseis de suídeos encontrados na mesma camada, consolidando a idade mínima de 1,04 milhão de anos para as descobertas. Destaca-se a ausência de fósseis hominíneos no sítio de Calio, elemento que mantém em aberto a identidade desses antigos ocupantes:
“This discovery adds to our understanding of the movement of extinct humans across the Wallace Line, a transitional zone beyond which unique and often quite peculiar animal species evolved in isolation.”
(“Esta descoberta amplia nossa compreensão sobre o movimento de humanos extintos através da Linha de Wallace, uma zona transicional além da qual espécies animais únicas e, muitas vezes, bastante peculiares evoluíram em isolamento.”)— Professor Adam Brumm, Australian Research Centre for Human Evolution, Griffith University
Em pesquisas anteriores, evidências em Flores — incluindo a descoberta do Homo floresiensis — sugeriram que o Homo erectus teria ultrapassado barreiras marítimas significativas, adaptando-se posteriormente ao ambiente insular, inclusive por meio de nanismo evolutivo.
Implicações e Próximos Passos
A descoberta em Sulawesi desafia as interpretações clássicas sobre o isolamento e evolução de hominíneos nas ilhas do sudeste asiático. A extensão e diversidade ambiental de Sulawesi, consideravelmente maior que Flores, traz novos questionamentos:
“Sulawesi is a wild card – it’s like a mini-continent in itself. If hominins were cut off on this huge and ecologically rich island for a million years, would they have undergone the same evolutionary changes as the Flores hobbits? Or would something totally different have happened?”
(“Sulawesi é um coringa – é como um mini-continente em si. Se hominíneos ficaram isolados nesta grande ilha rica em ecossistemas por um milhão de anos, teriam passado pelas mesmas mudanças evolutivas dos hobbits de Flores? Ou teria acontecido algo totalmente diferente?”)— Professor Adam Brumm, Australian Research Centre for Human Evolution, Griffith University
A ausência de fósseis humanos diretos ainda impõe desafios ao entendimento da linhagem e do padrão evolutivo desses hominíneos. Ainda assim, a pesquisa projeta um novo cenário para a investigação dos fluxos migratórios antigos, aumentando a urgência por futuras escavações e estudos detalhados em Sulawesi e regiões adjacentes.
O avanço dessas pesquisas poderá revelar trajetórias evolutivas insulares únicas, ampliando o conhecimento sobre adaptações e interações entre espécies humanas e ecossistemas isolados ao longo do tempo.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)