Pesquisa indica que dieta pode facilitar tratamento do câncer cerebral

Ann Arbor, Universidade de Michigan — InkDesign News — Pesquisadores da Universidade de Michigan divulgaram em 3 de setembro, na revista Nature, um estudo que demonstra como uma mudança alimentar pode tornar o glioblastoma — um câncer cerebral extremamente agressivo — mais suscetível às atuais terapias oncológicas, aumentando a sobrevida em testes realizados com camundongos.
O Contexto da Pesquisa
O glioblastoma é um dos principais desafios da neuro-oncologia devido à sua alta capacidade de adaptação metabólica e taxa de recorrência. As células tumorais diferem das saudáveis ao redirecionar processos metabólicos para maximizar sua divisão, ignorando funções cerebrais clássicas ligadas à sinalização elétrica e à síntese de neurotransmissores. Segundo o professor Costas Lyssiotis, coautor do estudo, essa reprogramação abre oportunidades para o desenvolvimento de terapias mais seletivas e menos danosas aos tecidos normais:
“O verdadeiro trabalho artístico da terapia é fazê-la matar o câncer significativamente mais do que as células normais.”
(“The real art of delivering therapy is making it so that you kill the cancer way more than you kill the normal [cells].”)— Costas Lyssiotis, Professor de Oncologia, Universidade de Michigan
Resultados e Metodologia
A pesquisa, coordenada pelo oncologista Dr. Dan Wahl, utilizou uma abordagem inédita ao analisar como o glioblastoma manipula seu metabolismo tanto em cérebros humanos quanto animais. Pacientes em cirurgia receberam infusão de glicose marcada, permitindo rastrear seu uso em células saudáveis e tumorais. Enquanto células normais transformaram glicose em energia e serina, elemento básico na produção de neurotransmissores, as células cancerosas desviaram essa glicose principalmente para a produção dos nucleotídeos, essenciais para replicação e reparo de DNA.
Esse processo possibilita ao tumor resistir mais à quimio e radioterapia, já que dispõe de mais nucleotídeos para reparar danos genéticos. Experimentos em camundongos mostraram que restringir a ingestão de serina — por meio de dieta — obriga o tumor a redirecionar o metabolismo da glicose para produzir serina em vez de nucleotídeos, tornando as células câncer menos resistentes às terapias padrão.
“Se você pode atingir esse ponto exato, privando-os de serina e aplicando as terapias, é possível pegá-los antes que descubram uma adaptação.”
(“If you can hit that sweet spot, you deprive them of serine, and you come in with the therapies, you get them before they figure out a workaround.”)— Costas Lyssiotis, Professor de Oncologia, Universidade de Michigan
Implicações e Próximos Passos
A alteração alimentar parece ser facilmente transponível para humanos utilizando uma dieta de baixa proteína acompanhada de suplementos livres de serina. Apesar disso, Lyssiotis alerta que o efeito provavelmente será temporário, já que o glioblastoma demonstra grande plasticidade metabólica. Wahl já planeja um novo ensaio clínico envolvendo pacientes, agendado para começo dos próximos anos, que aplicará o protocolo de rastreamento metabólico para identificar tumores mais sensíveis à modificação dietética.
Segundo Wahl, a nova metodologia de rastreamento metabólico pode informar qual tipo de tumor se beneficia mais desta estratégia, pavimentando o caminho para abordagens personalizadas:
“Parte do nosso entusiasmo se deve ao fato de o rastreamento isotópico poder nos dizer quais tumores produzem serina a partir da glicose e quais a captam do ambiente.”
(“Part of what we’re excited about is that this isotope tracing protocol can tell us which tumors are making serine from glucose and which tumors are taking serine up from the environment.”)— Dr. Dan Wahl, Oncologista, Universidade de Michigan
Ao identificar vulnerabilidades metabólicas específicas, os pesquisadores abrem caminho para uma era de terapias oncológicas cada vez mais individualizadas, com potencial impacto também em outras neoplasias altamente agressivas. O estudo aponta que mudanças na dieta associadas a tratamentos tradicionais podem inaugurar novas estratégias para doenças com poucas opções terapêuticas robustas.
Fonte: (Live Science – Ciência)