
Filadélfia — InkDesign News — Cientistas e comunicadores ambientais de destaque debatem, em novo livro, o surgimento do “doomismo” climático: a crença de que já seria tarde demais para agir contra as mudanças climáticas. O fenômeno, ancorado em redes sociais e no discurso viral de parte da comunidade científica, foi analisado em pesquisa recente conduzida por Michael E. Mann, professor da Universidade da Pensilvânia, e Peter J. Hotez, do Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos.
O Contexto da Pesquisa
A ciência climática, apesar do consenso robusto sobre as causas antropogênicas do aquecimento global, permanece sitiada por oposições políticas, econômicas e, mais recentemente, por setores do próprio campo ambiental. Segundo os autores, campanhas de desinformação e ataques direcionados a pesquisadores produziram obstáculos significativos ao avanço das soluções. Agora, além do negacionismo, uma nova barreira ganha espaço: o “doomismo”. Essa narrativa, potencializada por redes sociais, promove conteúdo alarmista com previsões não fundamentadas de colapso ambiental iminente e aponta a ação climática como supostamente inútil.
Resultados e Metodologia
Mann e Hotez fazem uma análise qualitativa das redes sociais, identificando exemplos do impacto negativo de influenciadores auto-intitulados “doomers”, inclusive ataques a cientistas que persistem em sustentar a viabilidade do combate à crise climática. O estudo destaca como alegações infundadas ou apocalípticas — chamadas de “climate doom porn” —, produzem polarização e desmobilizam até defensores históricos da ação climática. Segundo o texto:
Doomism produces viral social media content — what’s been termed “climate doom porn,” marked by dramatic but unsupported claims of collapsing ice sheets, runaway warming, and imminent extinction.
(“O doomismo produz conteúdo viral nas redes sociais — o chamado ‘climate doom porn’, caracterizado por afirmações dramáticas, mas sem suporte, de colapso de geleiras, aquecimento desenfreado e extinção iminente.”)— Michael E. Mann, Professor, Universidade da Pensilvânia
O estudo também reflete como as acusações contra cientistas do mainstream variam entre supostos exageros e subestimações da ameaça climática, em paralelo aos ataques de negacionistas, resultando na fragmentação do movimento:
The accusation is disturbingly similar to the (opposite) accusation by climate deniers — that climate scientists are overstating the climate threat to secure grant money. One wonders which it is. Are climate researchers understating or overstating the threat? Logic dictates it can’t be both.
(“A acusação é de forma perturbadora semelhante à acusação (oposta) dos negacionistas climáticos — de que cientistas climáticos estariam exagerando a ameaça para garantir financiamento. Fica-se a perguntar: afinal, estão subestimando ou superestimando a ameaça? A lógica diz que não pode ser ambas.”)— Michael E. Mann, Professor, Universidade da Pensilvânia
Implicações e Próximos Passos
O trabalho ressalta que as consequências do “doomismo” vão além da paralisia social: ameaçam desmobilizar o engajamento cívico e científico ao enfraquecer a confiança na possibilidade de reversão do quadro climático. Entre as soluções, os autores sugerem reforçar a comunicação baseada em evidências, combater a desinformação nas plataformas digitais e reconstruir pontes entre ativistas, pesquisadores e o público leigo. Eles também alertam para os riscos de soluções tecnológicas arriscadas, como geoengenharia, mencionando eventuais “hazards morais”, ou seja, o incentivo à inação sob a crença de que um conserto tecnológico futuro resolveria todos os problemas.
Por fim, a ascensão do “doomismo” impõe novos desafios à comunidade científica, que agora precisa não apenas desmentir o negacionismo tradicional, mas também construir uma narrativa de esperança fundamentada e ação eficaz. Os próximos anos serão decisivos para a consolidação de estratégias comunicativas que promovam mobilização e confiança, ao passo que a ciência avança e novas soluções são debatidas no cenário internacional.
Fonte: (Live Science – Ciência)