
Londres — InkDesign News — Uma pesquisa recente sugere que o medicamento amplamente utilizado para tratar acne severa, conhecido como Accutane (isotretinoína), pode estimular a produção de esperma em homens com infertilidade severa. Divulgado em julho no Journal of Assisted Reproduction and Genetics, o estudo abriu portas para uma abordagem não cirúrgica no tratamento de certos casos de infertilidade masculina.
O Contexto da Pesquisa
Tradicionalmente, homens com ausência ou números extremamente baixos de espermatozoides no sêmen só têm como opção médica a extração cirúrgica de espermatozoides diretamente dos testículos para posterior fertilização in vitro (FIV). Trata-se de um procedimento invasivo, com riscos como infecções, desconforto significativo e recuperação prolongada. Além disso, o sucesso na obtenção de espermatozoides via cirurgia é limitado — menos da metade dos pacientes apresentam resultados positivos nesse método.
Estudos prévios identificaram que homens inférteis costumam apresentar níveis reduzidos de ácido retinoico nos testículos, substância fundamental para o amadurecimento dos espermatozoides. O isotretinoína, semelhante ao ácido retinoico natural, surgiu então como potencial estimulador para reverter quadros graves de deficiência espermática.
Resultados e Metodologia
A investigação acompanhou 30 homens, dos quais 26 diagnosticados com azoospermia não obstrutiva e quatro com criptozoospermia. Cada participante ingeriu 20 miligramas de isotretinoína duas vezes ao dia por pelo menos seis meses, sendo submetidos a avaliações periódicas de sangue, hormônios e sêmen.
Após o tratamento, 11 indivíduos passaram a apresentar espermatozoides móveis no sêmen — capacidade essencial para procedimentos de FIV sem necessidade de cirurgia para coleta. Esse resultado contemplou todos os casos de criptozoospermia e sete dos previamente diagnosticados com ausência total de espermatozoides. Nos casos em que a cirurgia ainda foi exigida, o tempo do procedimento foi reduzido: em média, de 105 para 63 minutos após o uso do medicamento.
Segundo o estudo, nove ciclos de FIV já foram realizados com espermatozoides obtidos após o tratamento, resultando em embriões saudáveis, algumas gestações em curso e pelo menos um nascimento relatado.
O tratamento, contudo, não foi isento de efeitos colaterais: todos os pacientes apresentaram pele seca e lábios rachados, cerca de metade relatou irritabilidade, além de alterações nos níveis de colesterol e triglicerídeos.
“A ideia de que um medicamento já bem estudado possa estimular a espermatogênese em homens com produção espermática significativamente prejudicada é animadora, pois oferece uma alternativa não cirúrgica para muitos casos.”
(“The idea that a well-studied drug could stimulate spermatogenesis [sperm production] in men with severely impaired sperm production is exciting because it opens the door to a non-surgical option for men who might otherwise require invasive testicular sperm retrieval.”)— Dr. Justin Houman, Professor Assistente de Urologia, Cedars-Sinai Medical Center
“O prospecto de ajudar pacientes a evitar a dor, o tempo de recuperação e o estresse emocional de uma cirurgia é fonte de entusiasmo genuíno, mas há muito mais pesquisas a serem feitas.”
(“The prospect of helping a patient avoid the pain, recovery time, and emotional stress of surgery is a source of genuine excitement for me and my colleagues, […] this is not a cure-all, and there is much more research to be done.”)— Dr. Brian Levine, Diretor do CCRM Fertility of New York
Implicações e Próximos Passos
Especialistas ressaltam que a pesquisa é preliminar e de amostra reduzida, demandando replicação em maior escala e estudos randomizados antes que o fármaco seja incorporado à prática clínica fora de ensaios controlados. A isotretinoína exige monitoramento rigoroso devido a possíveis alterações metabólicas, mas não demonstrou danos ao DNA espermático ou riscos para futuras gestações quando administrada em homens.
No entanto, ainda são necessários dados sobre doses ideais, duração do tratamento e taxas reais de sucesso. Para Dr. Houman, “não se conhece a dose ou segurança ideais em homens buscando fertilidade”. Enquanto isso, recomenda-se que a administração do fármaco para infertilidade permaneça restrita a protocolos de pesquisa clínica.
Para o futuro, pesquisadores buscam identificar os perfis de pacientes mais beneficiados, ajustar cronograma e dosagem do tratamento, além de avaliar eventuais melhorias na qualidade espermática e, consequentemente, nos desfechos de fertilidade.
O possível uso de um medicamento oral para restaurar a produção espermática representa “um novo patamar de esperança” para casais afetados pela infertilidade masculina, apontando para uma potencial revolução no paradigma do tratamento reprodutivo.
Fonte: (Live Science – Ciência)