Buenos Aires — InkDesign News — Uma pesquisa apresentada em 14 de setembro, durante o 43º Congresso da Sociedade Europeia de Cirurgiões de Catarata e Refrativa (ESCRS), em Buenos Aires, revelou que um novo colírio composto por pilocarpina e diclofenaco pode melhorar significativamente a visão de perto em pacientes com presbiopia, condição que afeta praticamente todos os adultos com o avanço da idade.
O Contexto da Pesquisa
A presbiopia — dificuldade de focar objetos próximos ou ler textos — tradicionalmente é tratada com óculos de leitura ou intervenções cirúrgicas. Tais métodos apresentam limitações: óculos são vistos como inconvenientes e cirurgias envolvem riscos e contraindicações. Segundo a pesquisadora principal, Drª Giovanna Benozzi, do Centro de Pesquisa Avançada em Presbiopia, Argentina, há um grupo considerável que não se beneficia das soluções atuais.
“Realizamos esta pesquisa devido à significativa necessidade médica não atendida na gestão da presbiopia. As soluções atuais […] apresentam limitações. Há um grupo de pacientes que têm opções restritas além dos óculos e não são candidatos à cirurgia; este é nosso foco principal.”
(“We conducted this research due to the significant unmet medical need in presbyopia management. Current solutions such as reading glasses or surgical interventions have limitations, including inconvenience, social discomfort, and potential risks or complications. There is a group of presbyopia patients who have limited options besides spectacles, and who are not candidates for surgery; these are our primary focus of interest.”)— Drª Giovanna Benozzi, Diretora, Centro de Pesquisa Avançada para Presbiopia, Buenos Aires
Resultados e Metodologia
O estudo retrospectivo analisou 766 pacientes, com idade média de 55 anos, divididos em três grupos para receber formulações de colírio desenvolvidas pelo Dr. Jorge Benozzi, contendo pilocarpina (1%, 2% ou 3%) e dose fixa de diclofenaco. Os resultados mostraram que, após apenas uma hora da primeira aplicação, os pacientes ganharam em média 3,45 linhas na tabela de Jaeger, padrão para acuidade visual de perto. No grupo de concentração de 1% de pilocarpina, 99% dos pacientes conseguiram ler pelo menos duas linhas extras sem óculos. O acompanhamento se estendeu por até dois anos, com 83% dos indivíduos mantendo boa visão funcional após 12 meses.
As reações adversas relatadas foram predominantemente leves, com visão temporariamente escurecida (32%), irritação ocular (3,7%) e cefaleia (3,8%). Não houve eventos graves, como aumento de pressão intraocular ou descolamento de retina. A abordagem possibilita ajuste individual de dose conforme o grau inicial de presbiopia.
“Nossos resultados mais significativos demonstraram melhorias rápidas e sustentadas na visão de perto em todas as concentrações. Quase todos os pacientes experimentaram melhorias positivas na acuidade visual, embora a intensidade variasse conforme a gravidade inicial.”
(“Our most significant result showed rapid and sustained improvements in near vision for all three concentrations. Nearly all patients experienced positive improvements in near visual acuity, although the magnitude of the improvement depended on the status of their vision before treatment at baseline.”)— Drª Giovanna Benozzi, Diretora, Centro de Pesquisa Avançada para Presbiopia, Buenos Aires
O presidente-eleito da ESCRS, Professor Burkhard Dick, da Universidade de Bochum, Alemanha, ressaltou, no entanto, que a aplicação dos resultados é limitada pela natureza retrospectiva e unicêntrica do estudo, recomendando estudos multicêntricos futuros.
Implicações e Próximos Passos
A inovação pode representar uma alternativa farmacológica valiosa para grande parcela da população que busca independência dos óculos, porém não elimina completamente sua necessidade em todos os casos. Especialistas destacam que a terapia é voltada principalmente para quem não pode ou não deseja cirurgia. Apesar dos resultados robustos e do baixo índice de efeitos adversos, a adoção ampla ainda depende de pesquisas adicionais para validação da segurança e eficácia em múltiplas populações e contextos clínicos.
“O estudo sugere que colírios à base de pilocarpina e diclofenaco podem melhorar a visão de perto por até dois anos, mas seu desenho limitado implica que os resultados podem não se aplicar a todos. Estudos de longo prazo são essenciais para confirmação.”
(“The single-centre retrospective study by Dr Benozzi suggests that eye drops containing pilocarpine and diclofenac may improve near vision for up to two years, but the limited design means the results may not apply to everyone. […] Broader, long-term, multi-centre studies are needed to confirm safety and effectiveness before this treatment can be widely recommended.”)— Prof. Burkhard Dick, Presidente-eleito da ESCRS, Universidade de Bochum, Alemanha
Conforme Drª Benozzi, pacientes acompanhados há mais de dez anos também demonstram bons resultados. Os próximos passos envolvem mensurar o impacto da inovação na qualidade de vida dos pacientes e investigar os mecanismos fisiológicos subjacentes. Estudos multicêntricos serão essenciais para aferir a aplicabilidade global da terapia e consolidar sua posição como alternativa não invasiva no manejo da presbiopia.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)
