Estudo revela mulheres da Idade da Pedra com tantos artefatos quanto homens

York — InkDesign News — Uma nova pesquisa publicada no periódico PLOS One desafia antigos estereótipos sobre a divisão de tarefas no período Neolítico, revelando que mulheres e crianças enterradas no cemitério de Zvejnieki, no norte da Letônia, eram tão frequentemente acompanhadas por ferramentas de pedra quanto os homens. O achado, resultado de um amplo estudo arqueológico internacional, questiona concepções consolidadas sobre papeis de gênero na pré-história europeia.
O Contexto da Pesquisa
O sítio arqueológico de Zvejnieki, próximo ao Lago Burtnieks, foi utilizado como necrópole por comunidades do período Neolítico durante mais de cinco mil anos, entre aproximadamente 7.500 a.C. e 2.500 a.C. Excavado desde a década de 1960, após a descoberta acidental de um crânio humano em uma pedreira, o local se tornou um dos maiores cemitérios da Idade da Pedra na Europa, com mais de 330 sepultamentos identificados.
Historicamente, estudos sugeriam que ferramentas de pedra — símbolos de caça e trabalho — eram predominantemente associadas a indivíduos do sexo masculino. Essa interpretação alimentava visões sobre a centralidade do “homem caçador” e da divisão estrita de tarefas por gênero no passado remoto da humanidade.
Resultados e Metodologia
A pesquisa, liderada pela Dra. Aimée Little, da Universidade de York, analisou 328 sepulturas do local, catalogando os objetos litícos depositados junto aos corpos. Entre os achados, destaca-se o sepultamento de uma jovem na tumba 211, acompanhada de 45 artefatos litícos — entre eles uma machadinha, 28 lascas de sílex, 15 lâminas e um raspador, todos manchados com ocre.
O estudo revelou que “mulheres e crianças eram tão propensos quanto homens a serem enterrados com ferramentas de pedra. Isso contradiz o estereótipo antigo de que as ferramentas pertenciam exclusivamente aos homens”, declarou Little.
“Nossas descobertas derrubam o antigo estereótipo do ‘Homem Caçador’, que por muito tempo dominou os estudos sobre a Idade da Pedra, chegando inclusive a influenciar, em alguns casos, a própria identificação do sexo de crianças com base no enxoval lítico.”
(“Our findings overturn the old stereotype of ‘Man the Hunter,’ which has been a dominant theme in Stone Age studies, and has even influenced, on occasion, how some infants have even been sexed, on the basis that they were given lithic tools.”)— Dra. Aimée Little, Departamento de Arqueologia, Universidade de York
A equipe também identificou evidências de que muitos dos instrumentos foram propositalmente quebrados nos rituais funerários, denotando práticas complexas de luto e significado simbólico para todo o grupo social, não restrito a um só gênero.
“Esta pesquisa demonstra que não podemos assumir padrões de gênero e que os bens funerários líticos desempenhavam um papel importante nos rituais de luto, tanto de crianças e mulheres quanto de homens.”
(“This research demonstrates that we cannot make these gendered assumptions and that lithic grave goods played an important role in the mourning rituals of children and women, as well as men.”)— Dra. Anđa Petrović, Universidade de Belgrado
Implicações e Próximos Passos
O trabalho sugere que o acesso e o significado das ferramentas de pedra transcendiam distinções rígidas entre atividades masculinas e femininas. Os pesquisadores defendem uma revisão dos modelos interpretativos em arqueologia da pré-história, sugerindo que rituais com artefatos líticos refletiam práticas sociais e espirituais do grupo como um todo.
Observou-se ainda que a prática de enterrar ferramentas quebradas se estende a outros sítios do Báltico, indicando tradições compartilhadas entre as antigas comunidades da região.
A equipe aponta que a análise detalhada desses objetos promete “abrir novas perspectivas sobre as respostas humanas à morte e à memória na Pré-História”, estimulando investigações interdisciplinares sobre os significados culturais dos artefatos.
No horizonte, a expectativa é que futuras pesquisas esclareçam ainda mais os papeis sociais e práticas funerárias em sociedades ancestrais, contribuindo para uma compreensão mais inclusiva de suas dinâmicas e valores.
Fonte: (Popular Science – Ciência)