
São Paulo — InkDesign News — As taxas de juros no Brasil atingiram novos patamares na última segunda-feira, 4 de março de 2025, acompanhando o movimento dos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano (Treasuries), em um contexto de dados econômicos norte-americanos resilientes e medidas fiscais locais que surpreendem o mercado. O movimento inflaciona a curva de juros diante de expectativas de política monetária rígida e possíveis intervenções do governo brasileiro.
Panorama econômico
Desde o início do dia, as curvas de juros acompanharam a movimentação dos Treasuries, refletindo um enfraquecimento da tese de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed), diante da demonstração de resiliência da economia dos Estados Unidos. A expectativa anterior de recessão na maior economia do mundo, que abriria espaço para afrouxamento monetário, cedeu lugar a uma visão mais cautelosa, impulsionada por indicadores robustos recentemente divulgados.
No âmbito doméstico, o mercado reagiu a rumores de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda criar uma nova linha de crédito para motoristas de aplicativo, uma medida vista como contraproducente para a política monetária restritiva vigente. Tal iniciativa contraria o esforço do Banco Central brasileiro em conter o crédito para segurar a inflação.
Indicadores e análises
Às 17h15, a taxa do depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 atingiu 14,725%, ante 14,684% na última sexta-feira. Para janeiro de 2027, o DI subiu para 14,060% de 13,958%, e para janeiro de 2029, de 13,592% para 13,700%. Esses movimentos refletem a exigência de maior prêmio pelos investidores, influenciada também por variações cambiais e políticas fiscais inesperadas.
Segundo o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi:
“O mercado havia embarcado na tese de que haveria recessão nos Estados Unidos e que isso abriria espaço para o Fed cortar juros, mas os últimos dados não estão validando muito isso. Então há uma certa desistência do investidor nesta tese, gerando um grande movimento de inclinação na curva lá fora, e é exatamente o que estamos vendo aqui também”
(“The market had embarked on the thesis that there would be a recession in the United States and that this would open space for the Fed to cut rates, but the latest data are not validating this much. So there is a certain investor abandonment of this thesis, generating a large movement of steepening in the curve abroad, and that is exactly what we are seeing here as well”)— Nicolas Borsoi, Economista-chefe da Nova Futura
Nos EUA, o índice de gerentes de compras (PMI) do setor de serviços medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM) subiu de 50,8 em março para 51,6 em abril, superando a expectativa de recuo para 50,2, evidenciando uma economia ainda vigorosa.
Por sua vez, o PMI de serviços da S&P Global registrou 50,8 pontos, acima da estimativa de 50,6, indicando expansão moderada da atividade no setor.
Borsoi também destaca a influência do câmbio na curva brasileira:
“O vértice mais curto da curva de juros também sobe, mas em menor grau. A valorização do dólar contra divisas emergentes ocorre por conta da queda do dólar no exterior, após decisão da Opep+ de acelerar produção em junho”
(“The shorter end of the interest rate curve also rises, but to a lesser extent. The appreciation of the dollar against emerging market currencies occurs due to the dollar’s decline abroad, after OPEC+’s decision to accelerate production in June”)— Nicolas Borsoi, Economista-chefe da Nova Futura
Em contraponto, a Petrobras anunciou corte de 4,6% no preço do diesel (R$ 0,16) a partir de terça-feira, uma medida que pode aliviar a inflação, especialmente na ponta curta da curva, mas insuficiente para conter a alta dos juros, dada a forte influência do dólar.
Impactos e previsões
O mercado reajustou suas expectativas diante das incertezas fiscais, especialmente pela possível criação de linhas de crédito para motoristas de aplicativo, vistas como medidas parafiscais que podem reduzir a eficácia da política monetária restritiva.
Conforme análise de Borsoi:
“O BC sobe juros para bancos oferecerem menos crédito. Quando o governo tenta novas linhas de crédito, acaba restringindo este efeito”
(“The Central Bank raises interest rates so that banks offer less credit. When the government tries new credit lines, it ends up restricting this effect”)— Nicolas Borsoi, Economista-chefe da Nova Futura
Esse cenário pode pressionar custos de financiamento para empresas e consumidores, impactando investimentos e consumo, além de incorporar riscos adicionais às projeções do Banco Central para inflação e inflação subjacente.
Especialistas alertam que a continuidade do cenário exige monitoramento constante dos indicadores econômicos internacionais, da política cambial e das decisões fiscais domésticas para calibrar as próximas etapas da política monetária.
Fonte: (CNN Brasil – Economia)