
O Nascimento de Bebês Criados com DNA de Três Pessoas
São Paulo — InkDesign News — Recentemente, revelações sobre oito bebês nascidos no Reino Unido, fruto de uma forma experimental de fertilização in vitro (IVF) que utiliza DNA de três indivíduos, destacaram um avanço no campo da biotecnologia. O método visa prevenir a transmissão de doenças mitocondriais, gerando discussões sobre ética e eficácia.
Contexto científico
A ideia de criar bebês com DNA de três pessoas surgiu como uma alternativa para evitar a transmissão de mutações genéticas de mães portadoras de doenças mitocondriais. As mutações mitocondriais podem acarretar sérias condições de saúde, e as primeiras tentativas de três-person IVF começaram na década de 1990. Jacques Cohen e sua equipe, do Saint Barnabas Medical Center, nos EUA, realizaram as primeiras tentativas na esperança de tratar a infertilidade ao injetar o citoplasma de óvulos saudáveis em óvulos da mãe. O resultado foi o nascimento de 17 crianças, embora surgissem preocupações com anomalias genéticas.
Metodologia e resultados
Estudos mais recentes aplicaram uma abordagem refinada, buscando evitar o uso do mtDNA da mãe. Em um caso de 2016, John Zhang, do New Hope Fertility Center em Nova York, inseriu o núcleo do óvulo da mãe em um óvulo doador sem núcleo, mas com citoplasma saudável. Esse método culminou no nascimento de um menino saudável, com menos de 1% de mitocôndrias carregando a mutação da mãe. Contudo, sua execução ocorreu em solo mexicano, onde a prática era legal, gerando controvérsia.
O uso de técnicas de doação mitocondrial continuou a evoluir, com outras equipes em lugares como a Ucrânia e a Espanha. A clínica Nadiya, na Ucrânia, anunciou em 2017 o nascimento de uma menina através de método similar, mas o procedimento suscitou críticas. Vários centros de pesquisa, incluindo o da Universidade de Newcastle no Reino Unido, começaram a realizar ensaios clínicos a partir de 2017, com o objetivo de aplicar a doação mitocondrial de forma experimental.
Implicações clínicas
Os resultados mais recentes no Reino Unido celebraram o nascimento de oito bebês, que foram descritos como bem-sucedidos. No entanto, três dessas crianças apresentaram uma porcentagem elevada de mtDNA mutante, variando de 5% a 20%. A dúvida permanece: a mistura de mtDNA de dois indivíduos poderia trazer complicações. Dagan Wells, da Universidade de Oxford, observou que dois dos sete bebês em um estudo na Grécia também herdam mtDNA das mães, um fenômeno preocupante para aquelas com doenças mitocondriais.
“Mitochondrial donation doesn’t guarantee a healthy baby. We still have more to learn, not only from these babies, but from the others that have already been born.”
(“A doação mitocondrial não garante um bebê saudável. Precisamos aprender mais, não apenas com esses bebês, mas com os outros que já nasceram.”)— Nome, Cargo, Instituição
As implicações dessas descobertas vão além da mera celebração dos nascimentos; elas moldam o entendimento e a abordagem ética em torno da doação mitocondrial. A questão do uso potencial de técnicas de fertilização avançadas permanece em aberto, com muitos especialistas clamando por mais testes e regulamentações.
O recente nascimento dessas crianças representa não apenas um avanço científico, mas também um desafio ético. À medida que novas técnicas de assistência reprodutiva emergem, o diálogo sobre o que constitui um “pais fio” se intensifica, levando a novos questionamentos que demandam um rigoroso escrutínio e responsabilidade na pesquisa científica.
Fonte: (MIT Technology Review – Biotecnologia e Saúde)