Tratamento genético resulta em bebês de fertilização tridimensional

São Paulo — InkDesign News — Um novo estudo sobre doação mitocondrial, uma abordagem inovadora na biotecnologia reprodutiva, apresenta resultados mistos. Pesquisa em Newcastle, no Reino Unido, busca prevenir doenças mitocondriais em novos nascidos.
Contexto científico
O desenvolvimento de técnicas de doação mitocondrial visa prevenir doenças graves causadas por mutações no DNA mitocondrial herdado dos pais. Este método foi legalizado no Reino Unido em 2015 e, dois anos depois, a Autoridade de Fertilidade e Embriologia Humana (HFEA) concedeu licença ao Centro de Fertilidade de Newcastle para conduzir experimentos com esta tecnologia. O estudo atual, que se estendeu por oito anos, tem gerado expectativa no meio científico, especialmente após a autorização para tratar 25 mulheres anualmente.
Metodologia e resultados
A abordagem utilizada no estudo envolve fertilização de óvulos dos pacientes com esperma, seguida pela transferência do núcleo celular para óvulos fertilizados de doadores de onde o núcleo original foi removido. Assim, os embriões resultantes contêm o DNA dos pais, com uma pequena fração de DNA mitocondrial do doador. Embora cinco das crianças nascidas apresentem “nenhum problema de saúde”, uma delas desenvolveu febre e infecção urinária, enquanto outra teve espasmos musculares. Um terceiro bebê foi tratado para arritmia cardíaca e três apresentaram níveis baixos das mutações mitocondriais que o tratamento visa prevenir.
“O conceito de [doação mitocondrial] tem atraído muitos comentários e ocasionalmente preocupação e ansiedade.”
(“The concept of [mitochondrial donation] has attracted much commentary and occasionally concern and anxiety.”)— Stuart Lavery, Consultor em Medicina Reprodutiva, University College Hospitals NHS Foundation Trust
Implicações clínicas
Embora tenha havido um avanço significativo, a estudo não é universalmente aceito como um sucesso. A ética envolvida na doação mitocondrial é debatida entre especialistas, como Heidi Mertes, que se mostra “moderadamente otimista” em relação aos resultados, mas adverte para a necessidade de cautela. Além disso, Pavlo Mazur, um ex-embriologista, sugere a suspensão de novas tentativas até que se compreenda melhor a situação das crianças nascidas. A regulamentação e as pesquisas futuras devem considerar também a aplicação desse método em indivíduos sem mutações mitocondriais, como forma de mitigar riscos de transmissão de doenças.
“Estou feliz que funcionou, mas, ao mesmo tempo, é preocupante … é um chamado à cautela e a avanços cuidadosos.”
(“I’m happy that it worked, but at the same time, it’s concerning … it’s a call for caution and treading carefully.”)— Heidi Mertes, Ética Médica, Universidade de Ghent
Os resultados atuais oferecem um vislumbre promissor para futuras pesquisas e aplicações clínicas, refletindo a complexidade e a responsabilidade que cercam a inovação em biotecnologia reprodutiva. A continuidade deste estudo poderá gerar novos insights que beneficiarão muitas famílias ao redor do mundo.
Fonte: (MIT Technology Review – Biotecnologia e Saúde)