
São Paulo — InkDesign News — Uma nova pesquisa da Universidade de Tel Aviv sugere que o uso do fogo por Homo erectus durante o Paleolítico Inferior pode ter sido motivado mais pela preservação de carne e proteção contra predadores do que pelo cozimento.
Contexto da descoberta
A utilização do fogo representa um marco crucial na evolução humana, e seu propósito inicial ainda é debatido. Enquanto muitos pesquisadores apontam o cozimento como o principal motor para a adoção do fogo, a pesquisa liderada por Miki Ben-Dor e Ran Barkai sugere uma perspectiva alternativa. A equipe analisou nove sítios arqueológicos, datados entre 1,9 e 0,78 milhão de anos, onde evidências de uso do fogo foram encontradas.
Métodos e resultados
Os pesquisadores revisaram literatura existente e conduziram estudos etnográficos de sociedades contemporâneas de caçadores-coletores, tratando de entender as condições que prevaleciam nas antigas sociedades. “Examinamos o que os nove sítios antigos tinham em comum e encontramos grandes quantidades de ossos de animais grandes, predominantemente elefantes e hipopótamos”, relata Dr. Ben-Dor.
Além disso, a pesquisa indicou que a carne e a gordura de grandes presas eram essenciais na dieta dos nossos ancestrais, fornecendo calorias necessárias para sobreviver. “A carne e a gordura de um único elefante, por exemplo, podem alimentar de 20 a 30 pessoas por um mês ou mais”, afirma Ben-Dor. A preservação da carne e gordura, portanto, tornou-se uma necessidade premente, não apenas para sustentar os grupos, mas também para protegê-los de predadores e bactérias.
“Propomos uma nova compreensão dos fatores que motivaram os primeiros humanos a começar a usar o fogo: a necessidade de proteger grandes animais caçados de outros predadores e preservar a vasta quantidade de carne ao longo do tempo.”
(“We propose a new understanding of the factors that motivated early humans to begin using fire: the need to safeguard large hunted animals from other predators, and to preserve the vast quantity of meat over time.”)— Professor Ran Barkai, Co-autor, Universidade de Tel Aviv
Implicações e próximos passos
As implicações deste estudo sugerem que o papel do fogo na dieta humana primitiva foi muito mais complexo do que se pensava inicialmente. As descobertas também levantam questões sobre como as mudanças nas práticas de caça, à medida que os grandes animais desapareciam, poderiam ter levado à adaptação dos humanos para explorar presas menores.
A pesquisa pode inaugurar novas direções no entendimento das interações entre humanos e fauna nas sociedades pré-históricas. “Uma vez que o fogo foi produzido para esses propósitos, pode ter sido usado ocasionalmente para cozinhar — sem custo energético marginal”, conclui Barkai.
O estudo, publicado na revista Frontiers in Nutrition, abre novas possibilidades de investigação sobre como os humanos primitivos interagiam com o meio ambiente e caçavam, o que poderá impactar futuras pesquisas sobre adaptações dietéticas.
Fonte: (sci.news– Ciência & Descobertas)